Compartilhando o Evangelho
Esta é a semana do Orgulho Gay em Toronto, e Tim¹ me pediu para escrever um post detalhando
meus esforços evangelísticos na comunidade LGBT de Toronto (LGBT
significa Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais). Eu apreciaria algum
insight ou crítica útil que os leitores desse blog possam me oferecer, assim como suas orações.
Comecei esse ministério há dois anos,
enquanto trabalhava como um interno em uma igreja do centro de Toronto.
Fui informado que parte das minhas obrigações de estágio envolveria três
horas de evangelismo toda semana em um café ou em um pub. Essas não
eram boas notícias. Para ser honesto, eu acho esse tipo de evangelismo
muito intimidador. Fazer “propaganda não-solicitada” não faz meu estilo;
eu sou muito polido! Quando o pastor explicou o que ele esperava de
mim, um cenário esquisito surgiu em minha mente: eu no Starbucks me
aproximando de alguém que está lendo um livro e bebendo café. Eu me
apresento e pergunto se posso me sentar e falar com essa pessoa.
Naturalmente, ela quer saber o que pretendo, então eu imediatamente
passo a falar de religião ou de Jesus, provavelmente soando como os
Mórmons que apareceram semana passada em sua porta, enquanto ela
jantava.
Pessoalmente (e Deus usa todas as formas
de evangelização, não estou fazendo uma afirmação absoluta) eu acho
esse tipo de tática abaixo do ideal. Eu não sei nada sobre essa pessoa, e
ainda assim eu interrompi seu café da manhã para falar sobre o que eu
quero discutir. Eu queria que meu evangelismo começasse de uma maneira
melhor, mais natural; queria iniciar a discussão de uma forma que não
fosse nem “rude”, nem baseada em um pretexto forçado (pedir sua opinião
sobre espiritualidade, etc.). E mais: se pedi para sentar com aquela
mulher, talvez ela pensasse que eu estava dando em cima dela. E, é
claro, vivendo onde vivo, um homem talvez pensasse a mesma coisa. Melhor
segurar logo o touro pelos chifres, pensei. Eu nunca tinha ido num café
gay antes, mas eu pensei (corretamente) que alguns gays gostariam que
um completo estranho se sentasse com eles e conversasse. E foi isso que
decidi fazer.
O bairro gay de Toronto fica a apenas
dez minutos andando de onde eu vivo. Na primeira vez que me aventurei
lá, orei ao Senhor para que ele me mostrar aonde ir, o que fazer e o que
dizer. Eu estava muito nervoso. Não tinha um plano. Estava certo de que
veria todo tipo de coisas repulsivas, e que eu seria chutado do
estabelecimento por disseminar ódio fundamentalista. Mas eu tinha de
falar ao meu pastor que havia evangelizado por três horas naquela
semana, então fui adiante.
A comunidade gay de Toronto é bastante
unida. Muitos daqueles homens se conhecem há muitos anos, e todo mundo
se trata pelo primeiro nome. Alguns deles eram regulares naquele
estabelecimento. Tornei-me amigo de quatro deles: A. – que tem uma
severa paralisia cerebral, que o confina numa cadeira de rodas (o que
não atrapalha sua vida sexual, entretanto; ele me contou que já teve
centenas de parceiros); D. – uma drag queen infectada pelo
vírus HIV, que foi molestada por um padre católico; J. – um funcionário
público, vindo recentemente de Ottawa; e C. – que trabalha no
departamento de crédito de um banco nacional. Esses homens me aceitaram
como amigo e me apresentaram a outros gays, embora eles saibam que sou
um cristão praticante, heterossexual e conservador, que não aprova seus
estilos de vida.
Até o dia de hoje já falei com um bom
número de gays – quase todos brancos e na meia-idade. Muitos deles
saíram do armário depois de terem se casado e terem filhos. Por alguma
razão, 85% deles vieram do contexto católico. Isto significa que muito
do meu trabalho evangelístico já está fundamentado. Não há necessidade
de explicar que a Bíblia tem dois testamentos, ou quem Moisés ou Abraão
eram, ou convencê-los da historicidade da ressurreição; eles acreditam
na maior parte disso. Descobri que é com a autoridade da Escritura que
preciso me preocupar mais ao lidar com eles.
Quando
conheço alguém pela primeira vez no café e me perguntam o que eu faço
(o que é uma entrada natural para a apresentação do Evangelho), eles
imaginam que eu devo ser um pastor batista liberal e gay, porque,
afinal, o que eu estaria fazendo no café deles? (O primeiro homem com
quem conversei tinha acabado de terminar com seu namorado, um pastor
metodista). Começo perguntando algumas coisas. Eu os deixo falar pelos
próximos 45 minutos. Pergunto sobre o emprego deles, seu contexto, a
vida familiar, vida pessoal, no que acreditam, de maneira que eu possa
obter um retrato da epistemologia e da cosmovisão deles. É desnecessário
dizer, faço minhas perguntas de uma maneira educada, curiosa e
relativamente simples, não de forma interrogativa ou formal.
Homossexuais adoram conversar (pelo menos estes homens no café parecem
gostar) e, em geral, as pessoas hoje gostam de discutir
“espiritualidade”. Então, de maneira cuidadosa, eles inevitavelmente
perguntam em que eu creio. Então lhes falo do Evangelho, começando de
Gênesis 1, apresentando-lhes a narrativa e a cosmovisão bíblicas.
Tenho conseguido compartilhar o
Evangelho com muitos homens nos últimos dois anos, mesmo que eu diga
coisas altamente ofensivas para o estilo de vida gay – que é realmente a
identidade deles. Baseio tudo que digo na autoridade da Palavra; isto
é, deixo claro o que estou fazendo, que eu acredito que a Bíblia é
autoritativa para todos os povos em todas as culturas e tempos, porque é
a revelação autoritativa de Deus para os seres humanos. Eu insisto
nisso enfaticamente. E os digo que a Bíblia me condena, e condena a
todos. Ela me condena como um idólatra, alguém que é egoísta e pecador,
que tem retirado Deus de sua posição e colocado a si mesmo na posição de
“Dono do meu próprio nariz”. Fiz coisas em minha vida de que me
envergonho, e frequentemente aquilo de que me envergonho a Bíblia diz
ser meu “pecado” (tenho descoberto que aqueles homens podem entender
muito bem o que é se envergonhar). Eu não foco em sua homossexualidade
(que é o que eles esperariam de mim), mas sim no fato de que eles são
pecadores.
Algo comum de acontecer é eles me
pressionarem e perguntarem se a prática da homossexualidade é uma
expressão particular de sua disposição pecaminosa, e eu não hesitarei em
dizer a eles que sim. Quando perguntado, eu digo a eles que,
pessoalmente, eu teria uma posição de “viva e deixe viver” em relação à
vida sexual de todo mundo, mas que minha opinião não conta em nada se
Deus, nosso Criador, declarou algo diferente. Eu digo a eles que sei que
pareço muito intolerante e obtuso quando os digo que são pecadores e
que seus estilos de vida não agradam a Deus. Quem sou eu para dizer a
outro ser humano o que fazer com base em minha própria autoridade?
Então, explico que não é por minha autoridade que eu digo essas coisas.
Aceitem ou não, estou completamente convencido de que a Bíblia é a
revelação de Deus. Estou depositando minha alma eterna nisso. Me
condena, mas eu encontrei a salvação em Cristo. E condena você. E aqui
estou eu para falar sobre a salvação que encontrei em Jesus, que
acredito que você precisa, que a Bíblia diz que é necessário.
Ao
apresentar o Evangelho desse jeito (que é da mesma maneira que
apresento aos heterossexuais) ainda não vi ninguém irado comigo devido à
minha perceptível intolerância – embora eu tenha certeza de que este
dia está chegando! De fato, ser hetero e conservador tem funcionado em
meu favor, porque eles veem que eu realmente devo me importar com eles, a
ponto de entrar em um ambiente onde sou um peixe fora d’água, para
contar uma mensagem que sei que eles considerarão ofensiva. E eu
realmente me importo com eles. Muitos deles vêm de contextos onde eles
criam em alguma coisa semelhante ao que eu creio sobre a autoridade da
Palavra de Deus, vêm de uma perspectiva católica, porém desde então eles
“seguiram adiante”. Talvez eu seja jovem e iludido na opinião deles,
mas eu sou um cara agradável e eles percebem isso, porque veem que eu os
amo, e muitas vezes eles dirão: “a esse respeito nós o ouviremos outra
vez”. Eles gostam do fato de eu querer ser amigo deles, mesmo que não
aprove suas crenças. Acredito que isso mostra integridade e respeito;
eles respeitam isso e desejam corresponder.
Faço tudo isso porque amo a comunidade
LGBT. Esta é uma comunidade composta por almas eternas individuais.
Infelizmente, eles são uma cultura que quase não tem contato com o
cristianismo bíblico de qualquer vertente. Quantas drag queens podem contar com um cristão verdadeiro entre seus amigos? Muitas poucas, para nossa vergonha.
Eu sou o pastor de uma igreja nova no
centro de Toronto e é minha oração sincera que Deus use nosso povo para
impactar essa comunidade espiritualmente carente. Oro pelo dia em que
travestis possam entrar pelas portas de nossa igreja e serem recebidos
com sorrisos genuinamente amáveis e com amor cristão. Mas antes que esse
dia possa acontecer, eles precisarão de um amigo cristão, em quem eles
tenham aprendido a confiar; uma pessoa que nunca os convidaria para um
lugar onde eles seriam atacados ou envergonhados publicamente; um lugar
onde todos estão no mesmo nível, diante da cruz de Cristo, porque todos
são pecadores; um lugar onde nenhum pecado de qualquer pessoa seja
considerado mais repugnante que o pecado de outra; um lugar onde todos
os pecadores possam se sentar debaixo da pregação pura da sagrada
Escritura e escutar sobre o único Salvador do mundo e da salvação
somente em seu nome.
Eu oro para que sejamos mais cuidadosos
nisso; que enquanto a soberana graça de Deus trabalha através de suas
fiéis testemunhas, a igreja, nós vejamos mais homens e mulheres
homossexuais virem a Cristo.
Traduzido por Josaías Jr | iPródigo
¹ John Bell é pastor da New City Baptist Church, em Toronto. Ele estuda teologia no Seminário Batista de Toronto, e foi convidado pelo blogueiro Tim Challies para escrever sobre sua experiência com a evangelização de homossexuais.
postado por: Hadassa Ben HaShem