quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Ao som da volta do Rei - por Eliana Walker

 Como ignorá-lo, se agora meu próprio coração faz questão de reproduzi-lo?
 Há um ruído que ressoa em meus ouvidos. Um barulho antes confuso e indistinto que, em meio a outros, quase escapava a atenção. É como um som vindo de muito longe que aos poucos se aproxima. Como uma marcha ou uma dança, a princípio lenta, compassada e vagarosa, e que se tornou ágil e apressada, num crescente de andamento e intensidade. Como um suave adágio seguido por um enérgico allegro, ou uma romântica valsa seguida por uma animada marcha.

Ouço os pés, que resolutos tocam o solo num firme caminhar, convergirem para um único lugar. Ouço as vozes em uníssono – atravessando o vento e as nuvens, costurando entre as pessoas e rodeando os edifícios – chegarem até mim. Não é nítido o que dizem, mas o tom é de pedido e com jeito de saudade. Contudo, juntas na mensagem, cada timbre é destacado, dando cor e ornamento à união de todas elas.

Posso ainda, se focada e muito atenta, escutar meu coração respondendo a este chamado, com batidas ritmadas e vontade de escapar. Apesar de sempre tão calado e indiferente, mostrou-se firme e exigente, certo e decidido, declarando identidade com a essência do que ouviu. Todavia bem discreto, diz que é hora de preparo e que urge o tempo de agir. E enquanto minha mente, tão determinada a esclarecer cada detalhe, se perde no borrão das incertezas, em meu peito o coração parece ter a chave e a clareza necessária para alinhar-se a este som.

E diante de tal identificação, impossível não ser incendiada pelo ardor de pertencer a este exército, que a cada dia é atingido pelos largos passos da grande batalha em sua direção. Sendo arregimentado pelo mais alto e poderoso General, tem a honra de  lutar contra tudo aquilo que todo o seu ser sempre repeliu e repugnou.

Como não acolher este som de justiça e misericórdia? Como reprimi-lo, se despertou a mais profunda e sincera identificação com a razão da minha existência? Como ignorá-lo, se agora meu próprio coração faz questão de reproduzi-lo? E como restringi-lo apenas a mim mesma, se sua essência é expansão?
 Terça, 16-Ago-2011 • 08:22
Postado por : Hadassa Ben HaShem
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