“...para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito” (Ef 5.27).
Uma geração terá o privilégio de testemunhar a manifestação plena dessa igreja e, como conseqüência, presenciará a volta de Jesus para sua Noiva!
Imagine só! Este será o maior acontecimento de toda a história: a volta de Cristo. Um dia, em meio às atividades rotineiras “normais”, sentiremos algo forte, palpitações talvez; a sensação de ser um dia diferente dos demais. Todo o universo estremecerá, a natureza estará mais agitada, os astros sem lugar no céu; um fenômeno aparentemente natural – um relâmpago cortando o céu de uma extremidade à outra – revelará o momento mais esperado pelo povo de Deus: a volta do Rei!
Podemos ter várias interpretações escatológicas desse momento ou dos anos que o antecedem, mas uma coisa está muito clara na Bíblia: Jesus virá para uma igreja santa. Pode parecer uma afirmação simples ou óbvia, mas, para a maior parte das pessoas (e até dos cristãos), soa mais como utopia. Você consegue visualizar um povo santo em pleno século 21? Com tantas ofertas de Satanás, os avanços do pecado têm-se revelado desastrosos. Contudo, assim como a volta de Jesus é uma verdade inexorável, o levantamento dessa igreja santa igualmente o é. Vai acontecer; já está determinado.
Sempre me pergunto: como? De que forma Deus executará essa tarefa aparentemente impossível?
A Chave é o Amor – de Quem?
Em primeiro lugar, devemos pensar sobre o significado de ser santo. Santidade implica no cumprimento de todos os mandamentos deixados por Deus. E Jesus resume os mandamentos em dois: amar a Deus de todo coração e ao próximo como a si mesmo. Esses dois mandamentos sustentam a lei e os profetas (Mt 22.34-38).
Concluímos, portanto, que ser santo é amar a Deus, pois o amor ao próximo surge como conseqüência. Quando perguntaram a Agostinho qual seria o segredo da vida cristã, ele respondeu: “Ama a Deus e faze o que quiseres”.
Podemos pensar, então, que a chave para levantar uma geração forte, sem pecado, é o amor por Deus, certo? Errado! Existe um triste fato intrínseco a nós, homens, que torna impossível que isso aconteça: não conseguimos amar a Deus. Somos obcecados por outro amor, pela paixão por nós mesmos; não temos olhos para outra pessoa.
Já que nos conhece por completo, Deus não deposita esperanças em nosso amor por ele. Isso não significa, porém, que nunca se levantará uma igreja santa. A verdade é que a chave é o amor de Deus por nós e não o nosso por ele. Eis a diferença.
Liberdade de Escolha – e Conseqüências
A Bíblia está repleta de demonstrações desse amor, mas a passagem que mais me tem chamado a atenção, nestes dias, é a parábola do filho pródigo (Lc 15.11-32). Jesus conta a história de um pai que tinha dois filhos. Certo dia, o mais novo pede ao pai a sua parte da herança. Foi uma atitude tão mesquinha que beirava a crueldade, pois pedir ao pai a sua parte da herança é o mesmo que lhe declarar que já morreu; um comportamento de total independência.
O pai não hesita nem pergunta, simplesmente dá ao filho o que lhe foi pedido, e este – como bem sabemos – parte para longe e gasta os seus bens vivendo dissolutamente. A atitude do pai é surpreendente. Qualquer um de nós se sentiria ofendido e relutaria em dar a metade dos bens a um filho desmiolado. E ainda que não fosse por dó de perder as posses, seria por superproteção a um filho ainda despreparado para a vida. Esse pai da parábola, porém, não fez nada disso. Não tentou segurar seu patrimônio nem superproteger o filho...
Isso me lembra muito a atitude de Deus no Éden.
Quando criou o homem, Deus lhe deu uma escolha. Ele bem que poderia ter poupado a humanidade dessa escolha, mas não o fez. Não protegeu Adão (ou nenhum de nós) de tomar o caminho errado. Por outro lado, assim como o pai do filho pródigo, Deus sofreu junto com o homem o resultado da escolha errada. Metade dos bens daquele pai foi desperdiçada; para Deus, pior do que um patrimônio jogado fora foi ver o homem que criou com a finalidade de formar sua Noiva, sua cara-metade, parte de si mesmo, afastar-se para longe. Não existe superproteção nem falta de liberdade; o fato real é que o mesmo Deus que concede a liberdade arca com o prejuízo depois.
A Motivação para Voltar
Na seqüência da parábola, depois de partir para longe e desperdiçar seus bens, aquele filho sente a necessidade chegar. E a fome vem de tal forma que ele cai em si: “até um dos empregados de meu pai tem fartura de pão...”. Finalmente, o filho resolve voltar e humilhar-se, disposto a reconhecer seu erro diante do pai e a submeter-se às conseqüências.
Veja como até o voltar do filho pródigo não atende às exigências do juízo humano. Aos nossos olhos, o caminho de volta deve ser motivado pela saudade e pelo amor de quem errou, pelo arrependimento dos erros cometidos, pela percepção do mal causado ao ofendido. Aí, sim, a pessoa pode ser digna de nosso perdão. Contudo, o pródigo não caiu em si por causa de seus erros – novamente, trata-se de uma atitude é egoísta, pois a fome bateu, ele estava numa fria, no fundo do poço, e não lhe restou outra saída. Ele não voltou por estar cheio de boas intenções ou com saudade do pai, mas por ser um tremendo cara-de-pau!
Eis um perfeito retrato de todos nós. Nossas motivações são sempre egoístas. Caminhamos em direção a Deus como esse filho “arrependido” somente quando não nos resta outra opção viável. Usamos até a expressão: “Agora é só por Deus mesmo...”.
Deus sabe que somos assim. Não espera de nós mais do que isso. O amor de Deus não tem “dignidade” (é humilhante para Deus amar-nos dessa forma).
Um dos últimos diálogos entre Jesus e Pedro (Jo 21.15-17), no original, ficaria assim:
– Simão, você me ama mais do que esses outros me amam?
– Sim, Senhor, você sabe que eu gosto de você.
– Simão, você me ama?
– Sim, Senhor, você sabe que eu gosto de você.
– Simão, você gosta de mim?
– Senhor, você sabe de tudo, sabe que eu gosto de você.
Não amamos o Senhor com o amor que ele merece. Mas, “se somos sinceros o suficiente para admitir nosso amor imperfeito, Deus é poderoso o suficiente para tornar nosso amor imperfeito em amor perfeito para ele” (Mateus Ferraz).
Deus não espera que caminhemos em direção a ele, desejando a sua pessoa, sentindo saudade dele, não querendo suas mãos e sim sua face – pois não temos tal capacidade. Toda imaginação do coração humano é CONTINUAMENTE má! Não é sem razão que o filho mais velho resmunga, pois o cara-de-pau do irmão não merecia uma segunda chance. Nenhum de nós merecia, mas o amor de Deus é ilógico, um amor que não depende de ser correspondido, não depende de nada.
O Amor que Gera Amor
O pai confia tanto no amor que abre mão do controle. O amor assume riscos e, sem pensar duas vezes, ouvir as justificativas nem se garantir de nada, o pai recebe o filho de volta – com honra. Que loucura! Um amor que chega a ser insano. O escândalo do amor de Deus não pode ser entendido pela mente racional; só pode ser recebido em nosso espírito.
O filho está de volta. Tudo o que antes lhe pertencia por direito agora lhe é entregue, não mais por direito, mas por graça. Por essa, ele não esperava... É constrangedor estar diante de tamanha graça. E esse retorno inclui também a morte de um animal: “...e trazei o bezerro cevado, e matai-o; e comamos, e alegremo-nos”. Sangue é derramado.
O filho mais velho, aborrecido com a festa dada ao irmão dissoluto, nunca conheceu a vergonha de estar perdido, mas também nunca desfrutou do sangue da redenção: “Eis que te sirvo há tantos anos, sem nunca transgredir o teu mandamento, e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos”. A porta de entrada da graça é o sangue. Não se pode conhecer a graça sem antes reconhecer a profundidade da iniqüidade.
Um amor como esse gera uma resposta, pois, ao encontrar o perdão incondicional, não tem como não levar uma vida de santidade. É impossível imaginar aquele filho partindo de novo, mesmo sendo totalmente livre para fazê-lo. Ele conheceu o pai (uma pessoa apaixonante), e o foco de seus olhos deixou de estar em si mesmo ou nos bens do pai. Aquela imagem (seu pai de braços abertos) jamais lhe sairá da mente! Agora, sim, ele conhece o pai.
Saindo da parábola e voltando à vida real, uma mulher foi pega em adultério (Jo 8.4). Uma vergonha! Levaram-na até Jesus, e sabemos bem o que ele disse aos acusadores. Todos ficaram constrangidos. Entretanto, o que mais me chama atenção é o que Jesus disse à mulher: “Vai, e não peques mais” (v.11). Como assim? Será que Jesus não conhecia suficientemente a natureza humana para entender a tendência natural daquela pobre mulher? Sim, ele conhecia – mas também conhecia a natureza do amor incondicional de Deus. Ele conhecia a força do perdão como fonte de uma vida santa. Aquela mulher estava de volta à casa do Pai; fora aceita por ele.
Deus sabe que, longe dele, no pecado, não há alegria; sabe também o que sofremos na ilusão do prazer. Por isso a única coisa que ele quer de nós é que recebamos o seu amor – sem cobranças, sem condições...
Que liberdade constrangedora! É esse evangelho que nos transforma, é esse Deus que devemos conhecer todos os dias... E isso é a vida eterna!
Uma igreja que não tem relacionamento com o Pai é como o filho mais velho, cheia de esforço e justiça própria – e pobre apesar de estar em meio à tanta fartura. No fim, ficamos ressentidos, vendo a “diversão” do mundo, e não nos tornamos ponte para o amor de Deus. Com isso, o mundo agoniza: por não conhecer esse amor que traz salvação e santidade.
Precisamos libertar-nos das amarras do legalismo. “Quem me ama guarda os meus mandamentos”, mas Deus não nos ama por sermos bonzinhos ou guardarmos seus mandamentos. Ele nos ama INCONDICIONALMENTE. Quando encontramos esse amor, inevitavelmente o amaremos também, o que nos levará a guardar seus mandamentos. Viveremos em santidade, sem dúvida, pois a fonte será o amor de Deus por nós.
Há quanto tempo você não ouve as boas novas do amor de Deus por você? Faz mais de 24 horas? E como você está sobrevivendo? O justo vive pela fé, e a fé vem pelo ouvir. Não há um mês nem há dez anos – preciso ouvir hoje o meu Pai dizendo-me que me ama do jeito que sou (que escândalo), pois só assim poderei amá-lo também e ter uma vida livre do pecado.
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